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Extorsão do tráfico a motoristas na Ilha começou em 2021 e contava com adesivos numerados e rondas em motos iguais às da PM







O tráfico de drogas do Morro do Dendê começou a cobrar em 2021, ainda na pandemia, o “pedágio” de motoristas e mototaxistas que quisessem circular na Ilha do Governador.

Para tal, criminosos imprimiram uma série de adesivos — numerados — para identificar quem estava com as taxas em dia e faziam rondas pelo bairro com motos em tons de azul, semelhantes às da PM.

Na manhã desta quinta-feira (20), a Polícia Civil fez uma operação para prender bandidos envolvidos na extorsão. Até a última atualização desta reportagem, 3 dos 5 alvos haviam sido presos. Estavam foragidos Marlon Rodrigues Chieregatto dos Santos, o Marreco, e Mario Henrique Paranhos de Oliveira, o Neves.

Selo de comprovação do pedágio e motos semelhantes às da PM para rondas da extorsão — Foto: Reprodução/TV Globo

Selo de comprovação do pedágio e motos semelhantes às da PM para rondas da extorsão — Foto: Reprodução/TV Globo

Os investigadores da 37ª DP (Ilha) aprenderam dezenas desses adesivos. O desenho é de uma ilha com um coqueiro, acompanhado de um número. O “selo” devia ser colado no para-brisa.

O motorista que fosse pego sem o adesivo era rendido e levado ao alto do Dendê, onde era forçado a pagar o pedágio. Do contrário, o veículo era danificado ou mesmo retido até que o dinheiro fosse entregue.

“Essa investigação vem de alguns meses. Identificamos os criminosos e pedimos os mandados de prisão. Apreendemos manuscritos com telefones e vamos investigar se são vítimas já cadastradas por eles”, disse o delegado Felipe Santoro, da 37ª DP.

“Um compromisso do governo do Estado do Rio de Janeiro é que o controle territorial e o exercício da violência é privativo do estado. Quem manda no RJ é a população fluminense. Quem ousar atacar esse tipo de instituto e desafiar o estado nesse sentido vai receber a reprimenda”, declarou o secretário de Polícia Civil, Marcus Amim.

Família nas mãos do tráfico

Um motorista de 36 anos que mora na Ilha diz que ele e o irmão foram vítimas dos traficantes. Ele evita corridas no próprio bairro. Veja o relato:

“Eu rodo de Uber desde 2018 e sempre subia nas comunidades da Ilha. Em 2021, durante a pandemia, eles desceram com as barricadas para bem perto das vias principais e começaram a cobrar dos mototaxistas. Depois, passaram a fazer emboscadas com Uber Moto e 99. Há uns 6 meses, viram que as extorsões estavam dando certo e passaram a fazer isso com os motoristas de aplicativo.

Meu irmão foi uma das vítimas. Há 3 meses ele foi pego e exigiram que pagasse R$ 600 para liberarem a moto. Como ele se recusava a pagar mensalmente, eles furaram os pneus. Acabou cedendo.

Há 2 meses, eu fui a vítima. Pegaram o meu carro e fomos lá para a cooperativa do crime, que fica entre as ruas Grana e Baviera, no Cocotá, e exigiram que eu pagasse R$ 500. Eles abriram o aplicativo do meu banco e viram que eu não tinha dinheiro. Como eu tenho uma categoria alta no Uber, exigiram esse valor. Tive que deixar o carro lá e ir lá em casa para arrumar o dinheiro. Foi um momento de terror.”

Outros relatos

“Sou moradora da Ilha, tenho um bebê de 2 meses e não consigo Uber para levar meu filho no pediatra. O que mais chama atenção é que na Ilha temos as três Forças Armadas, além das polícias Civil e Militar.”

“Precisei levar minha filha à UPA e não consegui motorista para me levar de Ramos até a Ilha do Governador, pois ninguém queria ir.”

“Sou motorista de app e eu adorava rodar na Ilha. Hoje em dia já não vou mais. Infelizmente quem sofre são os moradores que dependem do nosso serviço.”

“Vivi na Ilha a minha vida inteira, hoje minha mãe mora lá, e quando preciso ir aos domingos de Uber lá eu preciso esperar mais de 1 hora para alguém aceitar, porque são até 15 cancelamentos. Ninguém quer ir para a Ilha!”

“Sou moradora da Ilha, tenho uma tia que faz quimioterapia e não estou conseguindo Uber para as consultas, porque nenhum motorista de aplicativo aceita corrida pra fora.

Leonardo Alves dos Santos, o Valoroso, foi preso na Ilha — Foto: Reprodução/TV Globo

Leonardo Alves dos Santos, o Valoroso, foi preso na Ilha — Foto: Reprodução/TV Globo

A operação

Os presos são Anderson dos Santos Barbosa, Leonardo Alves dos Santos, o Valoroso, e Leonardo Rodrigues Pereira, o Dogão. Segundo as investigações, os 3 eram os responsáveis pelas “corridas de emboscada”, em que solicitavam viagens nas plataformas para ver se o condutor tinha pagado as taxas.

Este mês, o departamento de jornalismo mostrou que criminosos estão ameaçando queimar ou quebrar os carros de quem não pagar uma taxa semanal.

Há duas formas de abordagens, conforme apontou um relatório do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), a que tivemos acesso:

  • Motociclistas, que cumprem a função de fiscais da quadrilha, identificam quem está circulando pelo bairro sem o adesivo — e as motos utilizadas eram parecidas com as da PM.
  • Falsas corridas, onde os motoristas são atraídos para a sede da cooperativa do crime, que fica na Rua Grana, esquina com a Rua Baviera, entrada do Dendê.

Como consequência da extorsão dessa narcomilícia, motoristas de aplicativo estão evitando aceitar corridas com destino à Ilha do Governador. Plataformas como Uber e 99 também passaram a identificar mais “áreas de risco” no bairro.

Um dos exemplos é a Rua Haroldo Lobo, no sub-bairro Portuguesa, uma região residencial, de prédios e casas. Para o aplicativo, essa é uma área de risco.

O alerta também aparece para o motorista que recebe um pedido de corrida para a Rua Ailton Vasconcelos, no Jardim Guanabara, bairro de classe média-alta da Ilha do Governador. A distância entre as ruas é de cerca de 7 quilômetros. O Hospital Municipal Evandro Freire fica no caminho.

Ainda no Jardim Guanabara, a Majestosa, uma confeitaria tradicional, também passou a ser indicada como área de risco. Até mesmo a Estrada do Galeão, única entrada e saída da Ilha do Governador, tem área de risco indicada por um aplicativo.




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